"Yes, we can!"

terça-feira, 27 de janeiro de 2009 — 5 comment(s)
Montagem com palavras do discurso de posse de Obama:
quanto maior a palavra, mais ela foi pronunciada
(Foto: Reprodução/Site Wordle.net)


Finalmente parece que há evidências promissoras de um futuro melhor. Aliás, é necessária evidência maior do que um negro ser eleito presidente dos Estados Unidos da América? Maior não, mas queremos mais evidências. Por enquanto sete dias é pouco tempo para o que Obama tem prometido fazer, ou melhor, tentar fazer.
O governo americano deixa de ser republicano e passa a ser democrata, deixa, enfim, de ser branco e passa a ser negro. Esse último detalhe não deveria importar, mas as circunstâncias o tornam histórico. Muitos vão dizer que é puro racismo fazerem tanta festa pelo fato de um negro conseguir ser presidente. Estes esquecem que o fato principal não é o que esse negro conquistou, mas onde conquistou. Há quase 60 anos, nos Estados Unidos da América, brancos e negros não podiam frequentar os mesmos ambientes, não podiam beber água no mesmo bebedouro, não podiam sequer utilizar a mesma bíblia para rezar. O racismo era, de certa forma, comandado pelo Estado, e por isso há uma semana, oficialmente, os EUA conseguiram vencer parte da guerra contra o preconceito. Aliás, é bom que se diga que o fato de o presidente ser negro não deve significar (e de acordo com Obama não significa) que será um governo para os negros. O principal discurso é o da unidade racial. Talvez por isso alguns digam que o Brasil é o país mais racista do mundo, porque o racismo daqui parece ser indestrutível. Está camuflado e constantemente omitido. Está onde ninguém vê e assim fica difícil combater.
Agora, vai saber o que aqueles racistas extremistas não devem estar pensando hoje, vendo o comando de seu país ser tomado pelas mãos de um negro. Esses não importam muito, deve-se pelo menos ter o cuidado para não fazerem com Obama o que fizeram com Martin Luther King. Pode parecer pessimismo demais pensar nisso, mas o que aconteceu foi um ato simples, King foi assassinado por um branco racista. “Eles pegaram a sua vida. Eles não poderiam pegar o seu orgulho”, já diria Bono Vox, em sua música que homenageia o líder. E não pegaram. O discurso de Martin Luther King se perpetuou em livros, jornais, está disponível na internet e, o mais importante, está em discursos políticos como o de Obama, sendo falado e seguido pelo mundo afora. O atual presidente dos EUA prometeu seguir a mesma linha pacífica de King e lembrou em seu discurso de posse que “as gerações anteriores encararam o fascismo e o comunismo não apenas com mísseis e tanques, mas com alianças resolutas e convicções duradouras” (na terceira página).
Além do pomposo discurso de Obama, temos pontos indiscutíveis, como o fato de ele ter vivido e estudado em um colégio muçulmano. Obama nega ter conexão com o Islã, “contudo os muçulmanos não vêem a prática como chave. Para eles, o fato dele ter nascido de uma linhagem de homens muçulmanos o faz muçulmano de nascença. Mais do que isso, todas as crianças nascidas com um nome árabe baseado na raiz trilateral H-S-N (Hussein, Hassan, e outros) pode ser considerado muçulmano, portanto eles entenderão que o nome completo de Obama, Barack Hussein Obama, é o suficiente para proclamá-lo muçulmano de nascença” (texto na íntegra). Independente disso, fato é que Obama teve contato com muçulmanos -além de ser considerado um, por eles- e, como ele mesmo afirmou, isso é bom pois permite que ele veja como esse povo pensa e assim estabeleça uma relação melhor com o Oriente Médio. O presidente falou em respeito em seu discurso, coisa que nem de longe víamos com Bush. (“Ao mundo muçulmano: buscamos uma nova trilha adiante, baseada em interesses mútuos e respeito mútuo.” – também na terceira página).
Barack Obama falou com convicção, com realismo e com sentimento, mas é preciso mais do que palavras. O mundo todo precisa que seus atos tenham as mesmas características. Um slogan socialista comandou a campanha a presidência de um país ferrenhamente capitalista. Todos que acreditam em uma verdadeira mudança podem estar completamente enganados, mas hão de convir que só o fato de a população ter escolhido um negro como seu representante sob tanta história contraposta já é uma mudança e tanta na consciência do povo americano, e isso não pode ser desconsiderado. A mudança a que me refiro aqui, é no que diz respeito à humanidade, não propriamente à política. Talvez o povo não se torne tão mais humano, mas certamente Obama vai limpar a imagem que Bush tanto sujou enquanto o representava.
O importante é que o povo americano quis pagar pra ver.

Tão perto que chega a doer

terça-feira, 6 de janeiro de 2009 — 3 comment(s)

O amor existe? E se existir, ele acaba? O amor é suficiente? Seria o amor uma mentira? Essas e muitas outras perguntas perturbam a todos que se atrevem a assistir “Closer”. O filme, do diretor Mike Nichols, foi produzido em 2004, inspirado em uma peça homônima, escrita pelo inglês Patrick Marber, em 1997. Nichols já dirigiu as comédias “De Que Planeta Você Veio?” e “A Gaiola das Loucas”, mas Closer é completamente diferente do enredo de ambos. A primeira surpresa reside na existência de apenas quatro personagens, nada convencionais. O filme se passa em Londres, onde quatro desconhecidos têm suas vidas enredadas de uma hora para outra.
Anna (Julia Roberts) é uma fotógrafa, Larry (Clive Owen) é um dermatologista, Dan (Jude Law) é um jornalista que escreve em obituários e Alice (Natalie Portman) é uma stripper. Seus dramas pessoais são destrinchados em uma trama densa, tudo completamente interligado. Mike Nichols parte das relações contemporâneas e através da história de Marber coloca tudo que todos sempre acreditaram à prova.
Alice conhece Dan depois de um acidente de carro. Anna fotografa Dan para a orelha de seu livro, inspirado em sua namorada, Alice. Porém, no estúdio, Anna e Dan se beijam e ele se apaixona. Alice e Anna se conhecem. Larry freqüenta sites de bate-papo. Dan conversa com ele e marca um encontro se passando por Anna em um lugar onde ela sempre vai para fotografar pessoas. Larry e Anna então se conhecem e se envolvem. Tudo isso ocorre através de cortes e inserções atemporais. As relações muitas vezes são mantidas por uma mera questão de conveniência. As cenas são dinâmicas e carregadas de sentimento e de franqueza. Os fatos não acontecem ao mesmo tempo, aliás, chega a ser difícil precisar o tempo que se passa entre uma situação e outra.
Um filme diferente de tudo o que já foi produzido no que diz respeito ao amor. O nome “closer” significa “mais perto” - no complemento do título: "Perto demais" -, mais perto das fraquezas e das dúvidas humanas. Tão perto que chega a parecer falta de cerimônia. As mentiras que tentamos dizer, as traições que não conseguimos esconder, os detalhes mórbidos de tudo que nossa existência humana insiste em querer saber; tudo isso é explorado a fundo no filme. Os diálogos são enérgicos e verdadeiros, com declarações que beiram a indiferença. Os casais, nunca constantes, estão sempre descobrindo sentimentos novos, baseados em relações de interesse mútuas. Quando o amor acaba, simplesmente vão embora. Para os românticos, o filme levanta uma bandeira contra o amor. Porém, sob um olhar atento, a história aborda vários casos cujos personagens não estão certos do que sentem. Como qualquer pessoa, Anna, Larry, Dan e Alice se vêem perdidos em sentimentos -bons e ruins- e mal sabem se o que sentem é mesmo amor. Lidam constantemente com dúvidas, mas não deixam de viver o que quer que seja isso.
Certamente não é um filme para todos os gostos. O filme chega a soar grosseiro para os acostumados com as comédias românticas tradicionais. Estes, inclusive, certamente estranharão Julia Roberts na pele da introspectiva Anna. É uma produção ousada com tudo para desagradar um público treinado para risadas e finais felizes.
Se alguém assiste ao filme esperando encontrar uma história de amor salpicada de situações engraçadas, estará perdendo seu tempo. Closer é um filme cru. Não possui um final feliz, possui um final real. Expõe toda a frieza que uma relação pode carregar, mas contém todo o calor que o amor verdadeiro e a paixão podem ter e serem capaz de provocar. Uma lição fica após assistir ao filme: o amor pode até existir, mas certamente não é como Hollywood tenta nos fazer acreditar que é.


"Assim caminha a humanidade"

domingo, 4 de janeiro de 2009 — 0 comment(s)
Bush tem hoje, nos Estados Unidos, um papel semelhante ao de Collor, aqui no Brasil, há dezessete anos: o de provocar indignação no povo e de levá-lo a agir. Através de linhas tortas, a história talvez esteja tomando um rumo certo agora, ou pelo menos melhor. Foi preciso os Estados Unidos passarem por tudo o que passaram para que a população sentisse vontade de participar ativamente de um processo de mudança.
Bush começou seu governo de vento em poupa. Logo no final do primeiro ano de seu mandato, após os atentados de 11 de setembro de 2001, o presidente encerrou o ano com mais de 90% de apoio popular. Até aí tudo bem, normalmente em período de guerra a população costuma apoiar o governo. Bush conseguiu manter esse apoio por mais um ano depois dos atentados, mas não foi suficiente. Em 2003 os índices de aprovação começaram a decair e, em 2007, Bush já era considerado o presidente mais impopular das últimas décadas. Não só a população americana, mas o mundo, estavam contra Bush. A imagem de um país egoísta e despreocupado com as questões mundiais foi instaurada e Bush colaborou, e muito, para que o mundo se tornasse tão anti-americano.
Surge então a figura de Barack Obama que, com a promessa de mudança, se elege presidente da maior potência mundial. Todo esse frisson sobre a eleição de Obama não está ocorrendo pelo fato de que ele é a promessa de mudança. Não! Imagine: um negro eleito presidente em um país que há anos separava os bebedouros de negros e brancos. A mudança que Obama carrega consigo é o reflexo da mudança de consciência do povo americano, e isso já é uma conquista e tanta! Quem poderia imaginar: um país considerado tão racista elegendo um representante negro.
Foi preciso Bush invadir o Iraque atrás de petróleo, ignorar o Protocolo de Kyoto e construir uma imagem tão negativa dos Estados Unidos, para que a população se desse conta do problema ali instaurado.
É a velha história de a necessidade fazer o sapo pular. A população dos Estados Unidos se viu na obrigação de fazer alguma coisa pelo país e de escolher um presidente que não fosse correligionário de Bush. Pode ter sido falta de opção no começo, mas depois, com uma simpatia internacional poucas vezes vista, Obama ganhou cada vez mais espaço, até chegar a presidência dos EUA.
Depois de tanta tempestade, finalmente a bonança. Ou pelo menos uma trégua, com a promessa de que nuvens escuras não irão se aproximar tão cedo da potência.
Agora é esperar e lutar para que o sonho de Martin Luther King seja mesmo o de Obama, e que se realize. Assim como Collor, George Bush sai da presidência pela porta dos fundos, mas tendo feito um grande favor à humanidade.

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Postado aqui, em 28 de novembro de 2008.
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"Dá licença, mas eu vou sair do sério!"

(...) Tenho certeza que esse ano será diferente. Nunca me senti tão corajosa e decidida na minha vida. Estou disposta a sentir qualquer tipo de dor. Aliás, tem tanto tempo que não sinto dor, de fato... Sinto como se eu fosse uma bochecha anestesiada por reflexo da anestesia da raiz do dente. Talvez minha decisão não passe de duas semanas, mas não acredito e nem quero que seja assim. Quem ficar ao meu lado verá. Quem ler esse blog provavelmente também.
E já que toquei no assunto, quem ler esse blog é melhor que rasgue tudo depois, mas usa o lixo pra reciclagem. :)

Feliz ano 2009.