Bush tem hoje, nos Estados Unidos, um papel semelhante ao de Collor, aqui no Brasil, há dezessete anos: o de provocar indignação no povo e de levá-lo a agir. Através de linhas tortas, a história talvez esteja tomando um rumo certo agora, ou pelo menos melhor. Foi preciso os Estados Unidos passarem por tudo o que passaram para que a população sentisse vontade de participar ativamente de um processo de mudança.
Bush começou seu governo de vento em poupa. Logo no final do primeiro ano de seu mandato, após os atentados de 11 de setembro de 2001, o presidente encerrou o ano com mais de 90% de apoio popular. Até aí tudo bem, normalmente em período de guerra a população costuma apoiar o governo. Bush conseguiu manter esse apoio por mais um ano depois dos atentados, mas não foi suficiente. Em 2003 os índices de aprovação começaram a decair e, em 2007, Bush já era considerado o presidente mais impopular das últimas décadas. Não só a população americana, mas o mundo, estavam contra Bush. A imagem de um país egoísta e despreocupado com as questões mundiais foi instaurada e Bush colaborou, e muito, para que o mundo se tornasse tão anti-americano.
Surge então a figura de Barack Obama que, com a promessa de mudança, se elege presidente da maior potência mundial. Todo esse frisson sobre a eleição de Obama não está ocorrendo pelo fato de que ele é a promessa de mudança. Não! Imagine: um negro eleito presidente em um país que há anos separava os bebedouros de negros e brancos. A mudança que Obama carrega consigo é o reflexo da mudança de consciência do povo americano, e isso já é uma conquista e tanta! Quem poderia imaginar: um país considerado tão racista elegendo um representante negro.
Foi preciso Bush invadir o Iraque atrás de petróleo, ignorar o Protocolo de Kyoto e construir uma imagem tão negativa dos Estados Unidos, para que a população se desse conta do problema ali instaurado.
É a velha história de a necessidade fazer o sapo pular. A população dos Estados Unidos se viu na obrigação de fazer alguma coisa pelo país e de escolher um presidente que não fosse correligionário de Bush. Pode ter sido falta de opção no começo, mas depois, com uma simpatia internacional poucas vezes vista, Obama ganhou cada vez mais espaço, até chegar a presidência dos EUA.
Depois de tanta tempestade, finalmente a bonança. Ou pelo menos uma trégua, com a promessa de que nuvens escuras não irão se aproximar tão cedo da potência.
Agora é esperar e lutar para que o sonho de Martin Luther King seja mesmo o de Obama, e que se realize. Assim como Collor, George Bush sai da presidência pela porta dos fundos, mas tendo feito um grande favor à humanidade.
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Postado aqui, em 28 de novembro de 2008.
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